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Muito brasileiros sonham em emigrar, porém, essa é uma jornada repleta de altos e baixos. Letícia Barbosa expõe suas reflexões em relação ao ato de sair do Brasil e a importância da comunidade brasileira na Irlanda. Foto por Guilherme Possa.

Despedir da sua cidade natal não é fácil, imagine, então mudar completamente de país! Para mim, trocar tudo o que conhecia para se jogar no desconhecido é um ato de coragem. Superficialmente, parece uma decisão fácil, afinal, quem em sã consciência não gostaria de mudar para Europa e, ainda, receber seu salário em uma moeda que, na cotação de hoje, vale cinco vezes mais que a do Brasil? Contudo, resumir essa decisão tão complexa a uma questão financeira seria injusto, pois na realidade trata-se de, literalmente, recomeçar toda uma história.

Com isso, sair da zona de conforto é inevitável e os sentimentos mais banais e cotidianos começaram a ter novos significados e intensidades: a tristeza se transforma em angústia e a felicidade em euforia. O único sentimento que nunca muda ou te abandona é, também, o mais intenso deles, a temida saudade. Mas não é aquela saudade possível de ser resolvida, é uma espécie que só o imigrante compreende, é uma saudade cultural, de pertencer, de se sentir verdadeiramente em casa.

Assim, tentamos amenizar esse sentimento, da forma mais contraditória possível: buscamos exatamente aquilo que optamos por deixar, o nosso país, ou, pelo menos, quem também costumava morar nele.

A comunidade brasileira na Irlanda tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos. Os dados da Embaixada do Brasil indicam que, em 2016, éramos 13.8 mil conterrâneos, enquanto, atualmente, ultrapassamos a marca de 70 mil. Em um país com população de, aproximadamente, 5 milhões de pessoas, esse número corresponde a 1,5% dos habitantes. Ainda parece um número relativamente baixo? Pois bem, te desafio a andar pela O’Connell Street sem ouvir uma pessoa falando em português ao seu lado!

Mas, infelizmente, também é possível notar que os movimentos anti-imigrantes e refugiados também vêm crescendo pela ilha, o que nos traz medo e incertezas.

Durante um discurso se posicionando sobre o tema, o Ministro Darragh O’Brien disse, in verbis: “we know from our own history what it’s like to have to leave our own shores, due to oppression, due to war, due to famine [nós sabemos a partir da nossa própria história como é ter que deixar seu país por conta das próprias questões, opressão, guerra, fome],” deixando claro a posição favorável do Estado em relação a todos que escolheram pela Irlanda como sua casa.

O suporte não vem somente do governo. O povo irlandês se juntou para manifestar a favor, não somente de nós brasileiros, mas de todas as comunidades que residem no país. O movimento foi batizado de “Ireland for All” e ele aconteceu em fevereiro deste ano. Durante a passeata, milhares de civis e dezenas de organizações se juntaram para condenar os movimentos anti-imigrantes e refugiados, além de reiterar o suporte para com as diversas comunidades que residem na ilha.

Em suma, além de toda a saudade, também temos que lidar com pessoas xenofóbicas e motivadas pelo ódio dispostas a tentar nos tirar, agora a força, do lugar que adotamos como nosso lar. Por isso, todo dia é uma luta que apenas o imigrante conhece. Mas, mesmo com tantas adversidades, nós escolhemos ficar. E a partir dessa decisão, buscamos diariamente refúgio nos braços dos outros milhares de brasileiros que aqui residem, estes que, assim como nós mesmos, escolheram ressignificar a vida no segundo que resolveram deixar sua terra natal.

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Muito brasileiros sonham em emigrar, porém, essa é uma jornada repleta de altos e baixos. Letícia Barbosa expõe suas reflexões em relação ao ato de sair do Brasil e a importância da comunidade brasileira na Irlanda.
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What does the global pushback against LGBTQ+ inclusive education actually mean for LGBTQ+ young people? 
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